Os vestidos, saias e túnicas são espetaculares: não apenas pela profusão de cores, estampas, superposições e bordados, mas pelo senso teatral e a delicadeza das montagens, dignas de origamis. São trajes de Frida Kahlo, pintora mexicana nascida em 1907, que fazia de suas roupas obras de arte – do ponto de vista estético, e também como declarações de independência, altivez e originalidade. Os jornais O Globo e Estado de S Paulo noticiaram esta semana que o Museu Casa Azul, que ocupa a casa onde Frida nasceu, viveu e morreu, na Cidade do México, está apresentando pela primeira vez uma grande coleção dos trajes da pintora. São 300 peças – há ainda joias e acessórios originais, além de peças posteriores dedicadas a ela e inspiradas nela.
As saias longas são conjugadas com blusas bordadas, écharpes, joias, tranças e arranjos de cabelo elaborados – e o truque se destina a enganar o olho do interlocutor, capturar a atenção, desviar a observação da metade inferior do corpo de Frida, deformada por uma poliomielite na infância e, mais tarde, por um pavoroso acidente de bonde. Vale a pena dar uma espiada em dez dos vestidos nessa galeria montada pela revista Vogue México. Na exposição podem ser vistos ainda coletes e próteses, o instrumental que acompanhou a trajetória da dor, rarefeitas alternativas de tratamento nos anos 30 e 40.
O curioso é que esses trajes e objetos estão sendo expostos pela primeira vez – na verdade, estavam trancados fora das vistas do público desde a morte dela, por determinação do marido, o grande Diego Rivera, e depois da inventariante que o sucedeu.
Como o clima é seco, os tecidos foram preservados e agora os visitantes podem se deslumbrar olhando por essa fresta a vida dessa artista tão singular, capaz de, deitada numa cama de hospital, pintar o gesso em torno do próprio tronco.
O título da mostra é As aparências enganam, frase escrita por Frida num desenho em que se retrata com vestes transparentes – e, por baixo, o colete de aço.
Essa mulher que tem um dos rostos mais conhecidos do planeta – seu olhar sob as sobrancelhas cerradas rivaliza com a barba de Che Guevara como marca registrada – vestiu suas dores. Ela morreu em 1954, em circunstâncias indefinidas – pneumonia ou suicídio. Pode ser, afinal, que a dor tenha suplantado sua resistência.
E por que isso agora, e aqui? Hoje, na hora da injeção, respondi à pergunta do Renato – enfermeiro da COI – sobre as dores que o Granulokine pode provocar. Não tenho nada, mas há quem sinta muita dor lombar e muscular. Pensei, carinhosamente, na Frida.
PS: Vale a pena fazer a visita virtual à Casa Azul. Ambientes espetaculares, jardins incríveis e as pinturas de Frida e Rivera. É quase como estar lá.
muito bom! adorei o texto. arrasou!
café com leite, ocê, né? 🙂
cê viu a galeria de vestidos, que coisa louca e maravilhosa?
A vida dela poderia ter sido de um preto e branco terrível. Incrível o que ela fez usando cores! Quisera eu sublimar a dor feito ela.
Você é artista da palavra, Lu, mas deve ter outras dores mais nobres escondidas aí, porque essa do Granulokine nem valeu. Dor que não dói não conta, né?
Adorei seu texto. E a visita virtual foi perfeita já que eu ando com uma preguiça danada nesse calor. Não precisar sair de casa até o México é uma bênção. 🙂
artista? quem sou eu 🙂 Fiquei louca com a casa da Frida também. Não fosse na poluidíssima e engarrafadíssima Ciudad del Mexico, me mudaria já. Bom dia, querida!
Oi Lu, a Luisa minha irmã esteve lá. Se apaixonou pela Frida. Dizia que era imperdível uma visita à casa onde a Frida viveu. Engraçado porque dia desses cruzei com um livro de cartas da Frida e pensei em vc. Tudo gente que sabe fazer limonada quando a vida traz um limão. E que limonada!!
Você fez a visita virtual? É sensacional! Eu fiquei louca pela luminosidade, pelas cores, pela ousadia. Que curioso você mencionar ter a Luisa gostado de lá… Frida vez uma caipirinha daquela limão amargo. Beijos, querida
Fiz sim. É incrível. Agradeço pela dica. Mostrei pras crianças também. Aqui todos pegam carona na sua viagem. Bjs
Obrigada pela dica e pelo prazer do texto Lu. Iremos lá esse mês, e você sabe disso. Depois te diremos qual a sensação de ver ao vivo e a cores tudo isso. Bjs.
ai quinvejinha – só não digo inveja branca porque ali é tudo COLORIDO! 🙂
Adorei, especialmente – como sempre – o seu texto; vou mandar o link da ‘visita’ para uma bailarina (ótima) de quem eu estou enchendo o saquinho para ela fazer uma coreografia sobre a Frida, pois é ‘uma o focinho da outra’… Beijos!
pois eu comentei lá no Face – Frida tinha que ser uma ÓPERA! Um drama incrível, superação, arte, luz…
beijos!!